Tem dias que de noite é sempre igual, ou até pior.
As coisas pelo menos até o próximo porre do progenitor dos rebentos da dona da pensão conhecida como dona Marica eram autênticos Kinder Ovos, pois a cada porre era uma surpresa. Ela era dona apenas da boca para fora, porque na verdade a única coisa que ela mandava ver era nos curativos e maquiagem para esconder as surras que levava do maridão Jerção, primo irmão do conhecido e folclorico Zeca Bordoada.
Naquela manhã em especial depois de disfarçar os machucados, deixou o marido curtindo o seu estado de torrefação e moagem que se tornara habitual, não se esquecendo de deixar em cima do criado mudo o dinheiro da faxina da casa da patroa da amiga Cremilda, acompanhado da diária de Madame Lidú, as quais dariam uma boa somatória suficiente para afastá-lo do couro das crianças que começara a esfolar, talvez pelo desespero em estar desempregado. Com esta pequena injeção de capital poderia ele dar uma voltinha nas imediações das casinhas do foco vermelho que proliferavam próximas ao cais do porto, voltando para casa com o cheiro das mulheres de vida fácil, mas em compensação não batendo nas crianças por motivos banais sem que elas tivessem feito absolutamente nada.
Na cabeça de Marica nunca iria passar a desconfiança que as surras talvez fossem pelas meninas e o menino se negarem a fazer o que se passava por sua cabeça.
Depois de ver a mãe sair, Úilian vestiu uma camiseta surrada, calçando ainda um par de tênis meia boca que usava apenas para transitar pelos becos, acelerando em direção da casa do amigo irmão do traficante que ali no morro mandava prender e soltar. Ao ser apresentado pelo amigo ao trafica, começou a gaguejar não estando mais certo se estava fazendo a coisa certa. Mas logo se encheu de coragem incentivada pelas palavras de apoio do chefão que era conhecido pelo singelo apelido de Zecão das Três Pernas, que vendo que o garoto estava prestes a urinar em seu “ligitimo” tapete “Perça” Isfahan, vindo diretamente de Assuncion Del Paraguay pelas mãos de um Frances de nome Pierre Camelon, lhe disse; ô meu irmão, eu não tenho tempo para perder com pirralho como você. Olha aí, ó, se tu tem alguma coisa para me falar vai logo desembuchando, se não, sarta fora que eu tenho mais o que fazer, disse isso olhando para uma neguinha de tirar o fôlego que passava pela sala a caminho da cozinha, piscando para o chefão e rebolando mais que passista de escola de samba no dia do desfile da campeã.
Se Úilian molhasse o tapete do trafica, já era, se abrisse a boca e babasse pela visão que acabara de ter, seria um já era desprovido de bilau.
Com um incentivo deste abriu o bico só faltando cantar o hino nacional de traz para frente. Ele contou ao irmão do amigo o que estava se passando em sua casa com relação ao irmão e as três irmãs.
Nesse ponto o chefão perguntou ao seu lugar tenente quem eram as irmãs dói menino recebendo como resposta um cochicho no pé de orelha que seriam as três meninas conhecidas por eles pelo apelido de Santa Maria, Pinta e Nina, as mesmas que neguinho ou (s) do morro receberam um alerta de não mexerem por estarem sob a avaliação da autoridade maior para um futuro lesco-lesco.
Não precisa me dizer mais nada, vái pra casa, fica na miúda que vou pessoalmente a noitinha levar um papo com teu pai. Fica frio que a coisa vai se acertar.
Satisfeito pela promessa recebida deixou-se carregar pelo irmão do chefão antes que começasse a agradecer como um boiolinha.
Ao sair da fortaleza se encaminhou a sua casa avistou as irmãs Rayane, Shéron, Uólace e Markongekson chorando abraçados. Faltava a Katlynn Morgana, pois o Úaliçon estaria nesta hora na creche deixado pela mãe.
Desesperado invadiu a sala e de lá passou para o quarto do pai, cuja porta estava aberta vendo-o de costas, completamente pelado cavalgando a irmã Katlynn que estava de quatro em cima de uma das beiradas da cama, também totalmente desnuda transparecendo as lagrimas que rolavam por sua face através do espelho da penteadeira que a mãe ganhara de Madame Lidú. Do lado direito da porta havia um guarda roupa também presente da patroa, em cima dele existia um trezoitão de cano longo que o pai comprara de um bandido já morto com a desculpa que era para defender a honra das caso neguinho se metesse a besta com elas. Dado o que estava se passando ele não podia esperar a presença do chefe do trafico para livrar a sua irmã das garras daquele animal. Sem poder desgrudar os olhos daquele horror, esticou o braço esquerdo passando-o pelo local onde a arma descansava não encontrando nada ali. Quando virou seu corpo em direção ao guarda roupa para melhor se orientar, a visão que teve congelou seu sangue e soltou a sua bexiga fazendo-o molhar o calção.
Marica depois de deixar Úaliçon na creche se mandou por uma picada dentro da mata aberta pelos traficantes quando tinham que dar o pinote para um bairro visinho todas as vezes que a policia resolvia dar uma incerta. Quem lhe mostrou este caminho foi o filho Úilian em uma manhã em que ela acordou indisposta devido ter abusado do uso de bifas recebidas de seu marido. Desde este dia passara a se utilizar deste atalho sempre que saia atrasada, mas somente se tivesse muito atrasada, pois o caminho era por uma descida íngreme dentro da mata fechada podendo tropeçar e cair centenas de metros ou ainda encontrar algum traficante armado que poderia lhe passar fogo pensando que ela era de um grupo rival ou mesmo da polícia, pois a visão era muito difícil por se tratar de uma mata fechada. Quando estava na metade da descida lembrou-se que aquele era o dia do pagamento da Pira Net e se o Jerção acordasse sem o sinal de sua televisão, quando ela chegasse em casa seria de sentir saudades da surra da noite anterior. Apostando na sorte voltou pelo mesmo caminho, agora com mais dificuldade, pois se para baixo todo o santo ajuda, para cima até os anjos da guarda dão o pinote com medo de que o protegido lhe peça uma caroninha.
A idéia era voltar até a casa, rezar para que Jerção estivesse ainda dormindo podendo ela apanhar dinheiro o suficiente para pagar os homens da TV a cabo, livrando o seu couro de mais um sapeca.
Quando se aproximou de sua casa pelos fundos, escutou um choro vindo do seu quarto, mais parecidos com suplicas, tendo identificado a voz de sua filha Katlynn.
Desesperada olhou por uma fresta existente entre a parede e a janela, avistando a filha chorando e pedindo ao pai que não fizesse aquilo com ela.
Como se tivesse levado uma cascata de água vinda diretamente do pólo sul, ela deu mais alguns passos para em seguida entrar pela janela da sala, cruzando a porta do seu quarto para em seguida tatear por cima do guarda roupa a procura do revolver que o marido tinha comprado para defender a família. Ele estava lá, só que depois de apanhá-lo e fazer mira na nuca do monstro que se dizia ser seu esposo, teve a sua mão segura por outra mão, identificando-a sem nenhum esforço como a do seu filho que tentou tirar dela a arma para ele mesmo resolver a situação. Ambos se olharam enquanto ouviam do pai palavras como, minha gostosa, meu tesão vem, goza com o papai...
Mãe e filho se olhavam tentando obter o obséquio de se tornar o executor daquele epílogo. No fim sem terem proferido nenhuma palavra o revolver foi cedido para um deles que sem nenhum vacilo disparou um tiro certeiro acima da nuca do mostro atirando-o para frente indo se encaixar em cima do corpo da pobre menina. Segundos depois ele foi arrancado da cama e jogado ao chão enquanto novos disparos providenciavam para que ele nunca mais na sua animalesca vida pudesse causar algum tipo de mal a nenhum de seus filhos.
A polícia recebeu da pericia informações de que Jerção havia sido morto por traficantes de um morro visinho para os quais estaria devendo. O revolver usado no assassinato nunca foi encontrado. O filho mais velho de 16 anos segundo todos os ambulantes da estação de metro estava vendendo seus amendoins uma hora antes do ocorrido não se ausentando do local antes do meio dia que era o horário em que apanhava os irmãos na escola para depois ele mesmo ir para o colégio. Era um menino legal, não bebia, não fumava nem era visto com a garotada barra pesada do bairro.
Quanto a mãe, na hora da morte do marido já estava no emprego na casa de Madame Lilú, expoente da alta sociedade e amiga intima da mulher do governador e de um dos Senadores da República os quais mandaram o delegado parar de encher o saco com a historia que nas segundas ela trabalhava para a dona Lilú e nas terças para a irmã, conforme declarações de uma desafeta vizinha de Marica que da noite para o dia desaparecera, tarquarmente a arma do crime.
De certo apenas a pagina policial de um jornal daqueles que se espremer sai sangue a qual dizia,
A morte do pai herói pelo filho Brutus
coisa que até os dias de hoje as otoridades competentes não conseguiram provar
Cinco anos depois parte da família de Dona Marica se mudou para Miracema do Norte, tendo ela se casado com o pai de Arlindo Orlando, senhor Orlando Arlindo, tendo com ele mais dois filhos.
Katlynn casou-se com o chefe do trafico do morro, mudou-se para São Paulo quando os ome resolveram pacificar os morros, ficou viúva e cheia da grana, tendo como segurança o mais fiel dos amigos de Úilian, o Pepê, que cresceu feito um vara pau, como é conhecido pelas meninas do morro, fazendo jus ao apelido. Ninguém se aproxima dela que está esperando o seu terceiro filho, pois os dois primeiros são paulistanos e gêmeos.
Úilian depois de ser retirado do barraco pelo trafica local que lhe prometera bater um papinho com seu pai e levado para a estação do metro para acertar o seu álibi, se acertou com o irmão do seu amigo, passando a trabalhar para ele chegando a comprar o seu primeiro Nike ao invés de usar aqueles presenteados pela dona Lilú que haviam pertencido ao filho Richard.
Pouco tempo depois era o lugar Tenente de Zecão das Três Pernas que mais tarde se tornaria seu cunhado.
No primeiro entrevero que a sua turma teve com outro bando que era aliado de uma milícia, ficou sem cunhado, mas em compensação com uma grana que nem ladrão consegue roubar, a qual transferiu para um apartamento em Brasília próximo aos três poderes, ganhando segurança 24 por lá morarem alguns políticos de renome e refama 171.
Dizem que vai se candidatar a deputaiado federal por Miracema do Norte ou outras localidades do Amapá ou Alagoas onde poderá conquistar a amizade do rei quiçá transformando-a em sua Pasárgada.
Richard se aprimorou como playboy, cheirou, fumou, aplicou de tudo e mais um pouco até contrair AIDS e passar para a terra dos Pés Juntos.
Foi um alívio para a família.
Dona Lilú contribuiu em demasia para transformar seu marido de bilionário em milionário, depois a rico e antes de passar para a classe média alta pediu o divórcio e se casou com um fazendeiro trilionário que caminha celeremente para o rol dos milionários.
A loirinha a qual Úilian salvou na piscina virou puta de colocar anuncio na NET.
E finalmente para fechar o repolho,
O ARLINDO ORLANDO CONTINUA DESAPARECIDO!!!
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