sexta-feira, 1 de julho de 2011

A morte do pai herói pelo filho Brutus Capitulo II




Ao voltar para casa, Uilian  estranhou que o irmão Markongekson estivesse sentado do lado de fora do barraco com cara de que tivesse chorado. Imediatamente as irmãs abraçaram o menino e antes que Uilian o enchesse de perguntas sobre o que estava acontecendo, elas o carregaram escada abaixo com a desculpa que iriam na barraca do seu Tê comprar cichetes para disfarçar o cheiro de bode velho que saia da boca do irmão que não proferiu uma única palavra ou fez um único gesto ou ainda, não desencadeou a terceira guerra mundial como fazia quando era afrontado pelas sisters.Era estranho, muito estranho, alias, em sua família estavam ocorrendo muitas coisas estranhas que tempos atrás fugiam completamente de sua compreensão, mas que agora após ter completado 16 anos começavam a lhes fazer cócegas na caraminhola.
Devia ser uma das tais coisas da idade que sua mãe sempre dizia, pois bem a pouco tempo ao acordar vestia a primeira roupa que encontrava a sua frente, mesmo que fosse aquela que vestira no dia anterior, a mesma que vestira um dia antes. Pensando nisso sorriu divertidamente ao lembrar das broncas que sua mãe lhe dava pela sua total falta de asseio. Ela lhe dia, “Uilian, peste do inferno, se ocê qué andar comu um porco eu não tenho nada com içu, mas pelo meno troca esta cueca que já está fedendo cu. Ói só, já esta até parecendo a freiada de pneu de caminhão aí atrás. Cruz credo minino, tire este cu sujo aqui do barraco. Isso foi a dois anos, três no Maximo, antes via as roupas que a mãe ganhava da Madame Lilú, as quais seu filho que tinha a mesma idade que ele deixara de usar, ou já estarem velhas pelo extremado uso de 30 dias, ou se não tivesse gostado do modelito, por não fazer parte da moda ditada pela turma do clube.
O filho da dona Lilú tinha sido o sonho de amizade de garotos como Uilian, certa vez teve a oportunidade de se aproximar do mundo do futuro playboy quando acompanhou sua mãe a casa da patroa, pois essa queria presenteá-los com roupas que os filhos não mais usavam.
Richard, que era o nome do rebento mais velho de dona Lidú tinha quase a mesma idade de Úilian, e quando foram apresentados Uilian lhe estendeu a mão em um gesto de educação, ato este que foi completamente ignorado pelo precoce playboy em uma clara demonstração de que em matéria de educação nunca foi formalmente apresentado a palavra ou ao ato.
A sua raiva pelo grandessíssimo filho da dona... Lidú aumentou quando teve que esperar até que a patroa de sua mãe acordasse, sendo premiado pela visão de um grupo de convidados do Richard que estavam se divertindo na piscina. Entre eles estava uma loirinha extremamente bonita que estava fazendo de tudo para não deixar que molhassem a sua cabeleira loira que ia até a sua cintura. Um dos amigos do dono da casa com cara de elefante taradão pegou a menina no colo para em seguida atirá-la na piscina sobre as risadas do restante dos débeis mentais ali presente. A menina começou a se debater em uma demonstração clássica de que não sabia nadar e estava se afogando. Como bons idiotas que eram, os amigos do cretino mor não souberam interpretar os sinais vindos da menina e se não fosse por Úilian, que acostumado a tirar da água alguns garotos e  meninas que nos finais de semana iam se refrescar em um pequenos lagos que ficavam próximo a sua casa na longínqua Miracema do Norte, terra do Arlindo Orlando, caminhoneiro da porra que Fugiu, desapareceu, escafedeu-se depois de passar o rodo na priminha Emengarda, conhecida mundialmente depois deste episódio por Mariposa Apaixonada de Guadalupe.
Experiente, Úilian saltou a cerca viva que o separava da área da piscina para depois de mais um pique se atirar na água de roupa e tudo, indo com o impulso até a menina que ao ver o seu vulto tentou desesperadamente agarrá-lo, mas ele com toda a sua experiência de guarda vidas de lagoas mergulhou por debaixo dela saindo em suas costas, abraçando-a pelo pescoço para em seguida com vigorosos bater de pernas e do único braço que estava livre conseguir levá-la ate a borda da piscina onde encontrou o bando de idiotas ainda rindo, sem a mínima idéia do drama que ali se desenvolvera.
Pensando que ele fizesse parte dos outros amigos do dono da casa que estavam ali e ela ainda não conhecia, o agradeceu perguntando seu nome. Antes de responder Richard se antecipou dizendo, ele é o filho da emprega, seu nome é Úilian, U-I-L-I-A-N, com acento no Ú. Enquanto a galera ria, a menina tratou de se desprender dele como se tivesse abraçada a um monte de osta.
Deste dia em diante colocou uma divisória entre ele e os playboy e playboas da zona sul, não atendendo seus pedidos para a compra de sorvetes todas as vezes que optara em vendê-los na praia ao invés dos amendoins que normalmente vendia na saída do metro.
O engraçado é que por dois anos se recusara terminantemente a usar as roupas vindas do Richard, mas agora não só as usava como separava as mais bonitas para serem usadas como roupas de domingo, tendo o cuidado de não usá-las em locais da zona sul onde sabia que o ex dono frequentava.
Esta seria outra das coisas da idade.

Uma coisa era certa, mesmo que ali não tivesse ocorrendo nada de ruim, situação em que não apostava um centavo furado por ter um desconfiometro acima dos garotos da sua idade ele haveria de descobrir.

Já atrasado para a venda de amendoins na estação do metrô, Úilian não esperou a volta dos irmãos sabendo que o pai deveria acordar com uma sede de anteontem pela água que passarinho não bebe bebida no aniversário do Tio Chulapa. O menino já estava careca de ouvir dos mais velhos que o melhor remédio para uma ressaca era outro bom porre e nisso seu pai já estava se tornando craque, completando naqueles dias quase um mês que ele declarara greve ao serviço, vivendo da casa para biroca do Tsiu, de lá para casa, pois os outros locais por onde andava quando estava empregado, a muito deixara de frequentar por não haver mais o salário que antes recebia para bancá-lo. Úilian não entendia bem, antes quando o pai tinha emprego, sua mãe chorava sem parar quando o marido chegava em casa após ter recebido seu pagamento, com pouco dinheiro no bolso e roupas com perfume daquelas moças que trabalham a noite. Agora desempregado, sua mãe ria a toa e ainda lhe deixava algum para que ele fosse se encontrar com os amigos na birosca do Tsiu. Adulto era uma coisa que definitivamente não se  conseguia entender.

Marica chegara a casa de Dona Lidú esperançosa que outro lote de roupas em desuso pelos filhos da patroa fossem colocados a sua disposição. Ela já sondara com as amigas sobre a possibilidade de vender algumas peças a elas, a vista naturalmente, pois todas as vezes que tentara vender no crediário acabara tomando na cabeça chegando até a perder algumas que a consideravam melhores amigas, conselheiras e quase irmãs. Como dizia o turco dono da lojinha de roupas usadas onde antes de ganhar as roupas de suas patroas as comprava para os seus filhos, negócios são negócios, amizade a parte. Se conseguisse vender as peças para as amigas poderia pagar não só a conta de luz que estava com reaviso de corte, mas também a conta da operadora de TV a cabo conhecida por Pira Net que instalou em todo o morro cobrando de porta em porta as mensalidades. Já pensou se o Gersão chega em casa e não tem aqueles filmezinhos para ele se animar e a procurar antes de dormir? Ia ser um perereco.

A tarde Marica saiu do serviço com as mãos abanando, pois Madame Lidú saiu para almoçar com uma amiga e não retornou, coisa que de vez em quando fazia, sempre tomando o cuidado de deixar o dinheiro da colaboradora, que era como tratava a diarista, para não correr o risco de perde-la, pois Marica podia ser umsa Anta para falar, mas era um burro de carga para trabalhar. O pior era que as roupas usadas somente poderiam ser resgatadas na outra semana pois pareceria cobrança se viesse no outro dia lembrar a patroa da promessa feita e cobrança era algo que nenhuma patroa gostava.
Ao sair do emprego encontrou uma amiga de profissão chamada Cremilda, a qual lhe confidenciou que tinha que ir até o Ceará visitar a mãe que estava quase morta vitimada por uma tal de doença de chagas, muito comum naquela região.Por conta dos preparativos para a viagem deixara de atender naquele dia a sua melhor patroa e no transcorrer da semana daria também o cano nas demais que compunham a sua semana de trabalho, ocasionando na sua volta um inferno astral de significativa monta uma vez que para angariar uma nova carteira de patroas como a que tinha seria apenas depois que fizesse uma vaca tussir.
Vendo uma oportunidade de colocar as contas em dia e até comprar material de construção para edificar mais um andar em cima da laje podendo construir novos quartos para os filhos que faziam da sala seus dormitórios, topou substituir a amiga enquanto ela estivesse fora.

Ela não sabia que o seu sacrifício em trabalhar mais oito horas por dia em troco de um novo salário faria abater sobre o seu lar uma desgraça de proporções épicas, da qual a sua família talvez jamais se recuperasse.   

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