sábado, 18 de setembro de 2010

Um tempo que nunca voltará

Curitiba da nossa infância...
Uma viagem no tempo...
A gurizada de hoje não sabe o que é...
Fechou a Curitiba onde nasci.
Só não fechou este meu tempo de guri"............viu guria!
Saudade da Curitiba dos meus tempos de guri.
Das partidas do "bete-ombro".
Do jogo de tique.
De pular corda e amarelinha riscada de giz na calçada.
Do jogo de búrico (bolinhas de gude, de vidro...). (não dou Volta, não vale fidusca...)
Dos treinos no campinho com as bolas de "capotão" da Casa Walter.
Saudade do jogo do bafo com as Balas Zequinha. Tinha Zequinha Médico, Zequinha Radialista, Zequinha Motorista, Zequinha Papai Noel (Esta era uma figurinha difícil, quase não saía. Só os mais afortunados conseguiam). Tinha até Zequinha Ladrão (e como tinha...). As figurinhas embrulhavam aquelas balas ruins, que ninguém chupava, mas que divertiram muito a piazada. No jogo do bafo era proibido cuspir na mão... O ciclo se repetia a cada ano.
Dos balões de São João que iluminavam as noites frias da Curitiba dos meus tempos de guri. Era Balão Caixa, Balão Mimosa, Balão Cruz. De todos os tamanhos e de todas as formas. Tinha uns grandes, tão grandes que até os bombeiros vinham ajudar na hora de acender a tocha. Os soldados vinham, erguiam a escada, seguravam a copa, o baloeiro acendia a tocha, o fogo ardia e o balão subia, espargindo parafina incandescente sobre a Curitiba dos meus tempos de guri. (nunca ouvi falar que um balão provocou um incêndio!).
Das raias (pipas, pandorgas...) que esvoaçam pelos campos da Galícia. Eram felizes os piás de Curitiba. Espremidos nas calças curtas os piás e as meninas nas suas saias de sarja azul marinho, toda pregueada, como mandava o uniforme escolar,levavam prá escola um punhado de bolachas Duchen e meia garrafa de Capilé. Às vezes, Crush ou Mirinda. Quando não, um suco de uva Grapete. Ou gasosa de framboesa da Cini. Prá variar, Minuano. Tinha uns que levavam Bidu-Cola ou Guaraná Caçulinha, com bolacha Maria.
Aos domingos, faceiros, no terninho de marinheiro da Maison Blanche, iam à matinada do Cine Ópera para ver Tom e Jerry. As meninas, gabolas, enfeitadas em suas saias godê, da  Joclena, e blusinhas da Mazer, uma loja infantil ao lado da Gomel, na “Rua dos Turcos”.
A Maison Blanche era de meninos. A Joclena e a Mazer, de meninas. Para os sapatos tinha a Cirandinha.
Piá nenhum admitia vestir o tal de “brim coringa não encolhe”, aquele tecido azulão grosso, especialmente para macacão de mecânico, que hoje chamam de Jeans.
As meninas vestiam tafetá ou veludo,também em festas, os vestidos godê ponche feitos de organdi suíço.
Os meninos, terninhos de casimira. Quando muito, camisa Volta ao Mundo e calça de Tergal.
Piás felizes chutando bola, descalços, sobre as rosetas dos campinhos por todos os lados. (Tínhamos que tirar os sapatos para não gastar, senão a bronca vinha certa).
Esse tempo de guri acabou, assim como acabou a Modelar, a Casa Rosa, a Casa Vermelha, a Casa Sade.
Não tem mais a Casa da Sogra do Aron Ceranko, presidente do Ferroviário (que também não existe mais). Não tem mais a Casa da Pechincha.
Desapareceu o Louvre do Kalluf, assim como nos deixaram os fraternos irmãos Munir e o Padre Emir. Cadê seu Jamil e seu Miguel e a Capital das Modas?
Não tem mais a Casa das Meias do telefone 66-6666, nem o 444 da Barão. E a Casa Edith, acredite, ainda tem, mas os chapéus Prada não vende mais. E a Três Coelhos, em que cartola se meteu? Não tem mais Móveis Cimo.
Já não se ouve mais o apito da Fábrica Lucinda.
Mudou a Casa Feres, “pequena por fora e Grande por dentro”.
As Casas Lorusso, “suba que o preço desce”, também desapareceram sem sequer nos dar o seu tradicional boa noite.
Fechou a Casa Dico,”Fique Rico comprando na Dico”, a Joalheria Pérola, do Kaminski, a Importadora Americana, do Marcos Salomão Axelrud, que vendia o Simca Chambord e o Simca Rally.
Desapareceram o Frischmann´s Magazine, assim como o Chocolate Basgal, da Tiradentes.
Não tem mais a Loja Tarobá, do Pedro Stier, em cujas vitrines o pioneiro Nagib Chede exibiu o primeiro programa de TV, no Estado do Paraná, projetado diretamente do último andar do Edifício Tijucas.
E o povo encantado via o Jamur em preto e branco, contando as notícias do dia.
Não tem mais o Cine Curitiba onde os piás trocavam Gibis do Capitão Marvel, pelos X-9 do Monte Hale.
Cadê o Cine América, o Palácio, o Broadway, o Avenida, o Ribalta, o Oásis, o Rívoli, o Vitória, o Marabá, o Luz, o Arlequim, o Ritz, e o Flórida.
Até os filmes do Morguenau e do Guarani chegaram ao fim.
Acabaram as matinês do domingo a tarde (depois de enxugar toda a louça do almoço de domingo para a mãe).
Se você "aprontava" durante a semana lá se ia a matinê de domingo.
Era ficar na janela vendo os amigos irem, com um monte de gibis embaixo do braço.
Lembram que quando o "mocinho" beijava a mocinha todo mundo fazia barulho com os pés no assoalho de madeira do cinema?
Não tem mais o bar Pólo Norte, no fim do trilho do bonde da Colônia Argelina.
E o Lá no Lhum, da Barão?
E a Charutaria Liberty, na esquina da XV com Monsenhor Celso, para onde se mudou?
O Hermes Macedo, “Do Rio Grande ao Grande Rio”, que rumo tomou?
E o Prosdócimo, onde mamãe comprou a minha primeira Ralleig? (era uma bicicleta preta, com frisos dourados e raios niquelados, importada, Inglesa). Quanto luxo. Sentia-me um Fittipaldi na boleia da sua Lotus).
E o Sérgio Prosdócimo, hoje, nem sabe disso. Ele também era um piá, nos meus tempos de guri
Não vejo mais as Óticas Curitiba, dos Irmãos Barbosa.
Onde foi parar a Casa Nickel, que vendia Chevrolet?
Desapareceram a Casa Londres e a Ottoni. O Lord Magazine, onde os almofadinhas compravam seus esporte-fino exibidos nos chás-dançantes de Medicina e Engenharia.
A Slopper também acabou. Mesmo fim levou Calçados Clark, Lojas Ika e Pugsley.
Acabou-se o Café Alvorada do Senadinho. (onde um amigo meu ao mexer com a garçonete recebeu um bule cheio de café na cara).
Fechou o Ouro Verde, onde nasceu a Boca Maldita. Nem Café Marumby, nem Café Piraquara tem mais.
Apagou-se o neon da Caixa Econômica, na Praça Osório, com as moedinhas correndo e caindo no cofrinho.
E a farmácia Minerva, antiga, que vendia Zig e Mercúrio-Cromo e também Pasta Kolynos, Creme Dental Eucalol e Sabonete Lifebuoy. (Será que ainda existe o Talco Ross)? E o Rum Creosotado? E Auricedina? E a Pomada Minâncora? E o Vinho Reconstituinte Silva Araújo? E o Regulador Xavier: “número um excesso; número dois, escassez”. (!). E Antissardina. E o Creme Rugol. E as Pílulas de Vida do Doutor Ross, “fazem bem ao fígado de todos nós”.
Nem a Stellfeld, do relógio de sol sobrou, com suas prateleiras repletas de Cibalena, Varamon e Cafiaspirina, Glostora e Gumex.
Só o relógio de sol resistiu, como se a testemunhar os meus tempos de guri.
No Edifício Azulay ficava a Musical, onde comprei uma radiola marfim, para ouvir de Nat King Cole cantando “Catito”, nos long play da Chantecler. Ali também ficava a loja de calçados Pisar Firme. A Clark também ficava lá, assim como a Farmácia Colombo.
Fechou o Banco de Curitiba, quebrou o Banestado. E o Bamerindus? Ave, Avelino.
É verdade, o tempo passa, o tempo voa…
Cadê o Colégio Parthenon, o Iguassu (pagou, passou!) da Praça Rui Barbosa?. E a Escola de Comércio De Plácido e Silva, cuja diretora Juril Carnascialli encantava os seus alunos pela sua fineza de trato e cultura herdada do iluminado Josef de Plácido e Silva. Muito obrigado Juril.
E o Colégio Cajuru. Por onde andarão as suas alunas, tão bonitas e invejadas? Será que ainda usam o "Cabeção" em seus dias de Gala?
E as meninas do Sion com suas saias cor de vinho?
E as normalistas do Instituto de Educação por onde andarão?
Acabaram-se as empadinhas da Cometa, os queijos da Casa da Manteiga do amigo Guido, hoje Meritíssimo Desembargador. No Mercado Municipal tinha o Manquinho, da Mercearia Sulina. Só vendia o que era de primeira !! Ele mesmo dizia, aqui presunto, se quer mortadela vai em outro!!/*
A coalhada da Schaffer, o Toddy da Leiteria Viana, e o pão sovado da Berberi, em que forno se enfornou? Por que não tem mais Milo para beber com leite, era tão gostoso!!
E a pastelaria Ton Jan, da Marechal. Tinha pastel de carne e de palmito. E também o especial, com ovo e azeitona
Fechou a Churrascaria Bambu, a Tupã. Até a Caça e Pesca fechou. Alguém se lembra do Mitóca, do Galetto, da Cantina Vezúvio...??
Não tem mais o açougue Garmatter e nem o Francês.
E o piá de pedra fazendo xixi na frente do Posto Garoto, cresceu?
Acabou-se o Rabo-de-Galo do Bar Americano e não tem mais a Carne de Onça do Buraco do Tatu. Nem o filé completo da Tingui. Nem a dobradinha do Restaurante Rio Branco. Do pastelzinho do Pasquale, nas manhãs dos sábados no Passeio Público, restou a saudade. E o Bar Palácio para as madrugadas, na saída dos bailes do Clube Curitibano ?
O Locanda Suíça desapareceu. Até o Gruta Azul sumiu.
O Jatão, em Santa Felicidade, travou a turbina e caiu. Desmoronou.
Nem a Maria do Cavaquinho, nem a Gilda, nem o Esmaga ou o Osvaldinho perambulam pelas portas da Velha Adega, na Cruz Machado, ou pela frente da Gogó da Ema na Comendador. Por ali onde andava o Saca-Rolha, nas tardes de sol, com o seu guarda chuva sempre fechado.
O Bataclã não desfila mais com o seu terno branco e cravo vermelho na lapela, pela frente do Fontana Di Trevi ou da Guairacá, na João Pessoa que virou Luiz Xavier.
Fechou a Curitiba onde nasci. Só não fechou este meu tempo de guri.
Não tem mais Leminski, nem Kolody. Dele, resta o lamento:
“Esta vida é uma viagem; pena eu estar só de passagem”
Dela, um alento: “Para quem viaja ao encontro do sol é sempre madrugada”
De mim, o consolo: “Saudade! és a ressonância
De uma cantiga sentida,
Que, embalando a nossa infância,
Nos segue por toda a vida”.
Curitiba querida, que bom que eu te vivi!
(Infelizmente de um Autor Desconhecido para o qual dedico minhas homenagens ).
Cara, que saudade da liberdade que tive de viver tudo isso.
Se a meninada de hoje soubesse o que era andar de lá para cá, de cá para lá sem correr o risco de ser morto por um mísero tênis Nike, saberia do que eu em segundo plano e o autor desta estamos falando.
Sou de um tempo que se podia com toda a tranqüilidade ir do Cirandeiro que ficava em frente ao Sesc da esquina até a General Carneiro entre a Visconde de Guarapuava e Nilo Cairo, as três horas da manhã, sem  encontrar um mísero assaltante, ou a sua gangue para nos deixar pelados como viemos ao mundo.
 Naquele tempo nem polícia a gente encontrava por total falta de necessidade.
Onde foi parar a minha Curitiba daqueles tempos???
A única coisa que restou foi a lembrança através desta música, hino maior de um tempo que nunca voltará.  


Um comentário:

Paulo Rogério Jasiocha disse...

Para mim que sou saudosista de carteirinha, ter clicado para abrir este blog foi um momento maravilhoso. Tenho a impressão que conheço este autor desconhecido, pois tudo que ele relatou eu conheçi,vivi, participei mesmo eu ter vivido por pouco tempo em Curitiba. Parabens Claudio, por ter feito esta excelente postagem.
Paulo Rogério Jasiocha
em- Um tempo que nunca voltara.