Amigo é para estas horas
Tenho um amigo que a muitos anos não via que se chama Patrício. O cara é um senhor vendedor viajante e como tal, vive de cidade em cidade procurando rabos de saia como se fosse um marinheiro zanzando pelos portos da vida.
O Patrício estava vindo de São Paulo com destino ao norte do Paraná, mais especificamente Londrina e Maringá onde pretendia fazer algumas vendas para fechar o ano, e recuperar o que tinha gasto na gandaia, devendo retornar um pouco antes do Natal para a nossa querida Salvador, onde sua família o aguarda para os festejos de final de ano.
O cara deve ter saído de Sampa em estado quase de torrefação e moagem, caso contrário teria ligado para mim para saber se era jogo dar uma passadinha em Ponta Grossa, cidade que da rodovia impressiona pelos seus prédios, dando ao viajante uma aparência irreal de um grande mercado de consumo. Ela é realmente muito bonita, o problema é que por ser visitada por um batalhão de representantes comerciais merece o titulo que lhe dei de cemitério de vendedores.
Tive a oportunidade de conhecer Ponta Grossa quando tinha uns 19 anos, indo a um aniversário da sobrinha de uma amiga da minha mãe. Fui com um amigo e ficamos hospedados em um Hotel, pois queríamos transformar a noite em uma puta gandaia, o que teríamos conseguido se não fosse o chifrudo do meu colega que começou a cantar até a mulher do padre dentro de um diretório estudantil que estava promovendo uma balada, precursora das também antigas discotecas. O resultado foi que a turma de lá prometeu nos cagar de cacete assim que colocássemos os pés para fora da sociedade, o que não me deixou nenhuma outra alternativa que não fosse procurar uma outra turma de uma cidade vizinha que lá se encontrava e falar para os caras que a turma da cidade pretendia dar um cacete neles por estarem azarando as meninas locais.
Depois disso foi só esperar o cacete roncar para em seguida nos atirarmos pela janela que ficava a uns três metros da calçada, indo aterrizar em um gramado que aliviou a queda para não termos as quatro patas quebradas.
Depois disso corrermos até a esquina para melhor apreciar as duas turmas saindo do salão, se comendo na porrada, tendo um pouco mais tarde que se explicarem com a dona justa, que os levou para a delegacia onde sob os auspícios do Delegaçado terminaram a noitada.
Quanto a nós, acabamos indo para um boteco onde terminamos de encher o caveirão, rindo da turma que queria o nosso couro e que naquelas horas deveriam estar curtindo o porre na xilindroia.
Não só eu como diversos amigos que até hoje exercem a função de representantes comerciais a muitos anos deixamos de visitar profissionalmente Ponta Grossa para não criarmos antipatia pela bonita e valorosa cidade. No sul do Brasil existem três cidades as quais não pretendo atuar como representante comercial que são, Ponta Grossa, Irati e Criciúma. Não sei qual das três é a pior e para não cometer injustiça, elejo as três as piores, empatadas cabeça a cabeça.
O Patrício já estava na cidade a mais de vinte dias e nada de vender o que quer que fosse. Segundo ele, teve que vender o CD do seu carro para poder pagar o hotel sob pena de ter que dormir no próprio veículo, o que não seria de todo ruim se ele dispusesse de um local para tomar banho, porque um representante comercial fedendo a uruca é algo que ninguém merece.
Segunda desta semana ele encontrou outro vendedor que também estava na pindaíba, só com a diferença que havia recebido dinheiro da sua empresa para deitar o cabelo da cidade, o que fez sem olhar para trás nem que fosse para dar uma ajuda ao amigo. Foi como naquela história dos dois caçadores que sentiram a presença de uma onça próxima onde se encontravam, fazendo um deles se sentar, tirar as botinas e vestir um surrado par de tênis, provocando do amigo uma pergunta ele estava pensando que com o tênis correria mais que a onça. O outro iniciando uma corrida lhe gritou:
Não cumpadi, eu só preciso correr mais que ocê.
Ficando sozinho na cidade, na eminência de sofrer um despejo do hotel que o hospedava, teve de repente a lembrança deste amigo que vos escreve, que estaria a 120 kilometros dele.
Não dispondo do meu telefone, lembrou-se do blog que já havia em algumas ocasiões acessado, entrando nele e me enviando um e-mail pelo gmail, pedindo socorro, o que não ficou sem resposta, pois amigo meu para mim é sagrado.
Peguei o carro e me mandei para Ponta Grossa achando que o xupeta estaria de ônibus e qual foi a minha surpresa quando depois de nos encontrarmos tive que ir a um posto comprar alguns litros de gasolina para tirar o seu carro da rua, onde o tinha deixado por ter acabado o combustível.
Depois de tudo resolvido, fui até o seu hotel, paguei a conta e quando já estávamos saído da cidade ele deu sinal de seta encostando o carro na calçada, descendo e vindo até a minha janela, pedindo para que eu descesse para testemunhar uma promessa que ele havia feito, caso conseguisse sair da cidade com o seu carro rumo ao norte do Paraná. Sem saber o que seria, dei mais esta força ao meu amigo, me colocando ao seu lado na calçada, vendo-o levantar uma das mãos em direção aos prédios da cidade, passando a homenagear a cidade através de um discurso de despedida que demonstrava sem nenhuma sombra de dúvida o seu estado de espírito naquele momento. Disse ele em alto em, bom tom. quase gritando:
ADEUS PONTA GROSSA DA FOME
NUNCA MAIS ME VERÁS TÚ
POIS AQUI CRIEI FERRUGEM NOS DENTES
E TEIA DE ARANHA NO..., palavra de honra gente que foi bem assim que aconteceu...
SÓ PELO DIVINO
Vou morrer leso e não vou ver tudo.
Essa do Lula ligar para o Bucha para lhe dizer que o Brasil não será afetado pela crise, me fez ficar muito desconfiado que ao invés de enxergar uma luz no fim do túnel eu passe a ver a negritude do fundo do poço. Só pode ter degustado uma manguaça da braba, para ter a coragem de ligar e falar um absurdo desse.
O Bucha deve estar até agora literalmente se cagando de tanto rir pelo fato de neste mundinho de cruz credo existir um cara ainda mais xupetão do que ele.
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